21.8.08

Outros inícios


Outros inícios, antes de avançarmos sobre um tempo mais recente. Os inícios desta rua, onde se encontra a sede do Cão Solteiro.

Não existe uma certeza sobre a origem da toponímia da Rua do Poço dos Negros. Numa carta régia de 1515,
D.Manuel fala da necessidade da construção de um poço para depositar os corpos dos escravos mortos, que eram muitos, sobretudo durante os surtos epidémicos. Entendia o rei que "ho milhor remedio sera fazer-se huu(m) poço, o mais fumdo que podese ser, no llugar que fose mais comvinhauel e de menos imcomvyniemte, no quall se llãçasem os ditos escravos".
Até hoje não foram encontrados vestígios que possam situar esse poço, mas sabe-se que a medida foi cumprida pela câmara na área em direcção a Santos - o local fazia sentido pois a cidade crescia e avançava para ocidente. A proximidade geográfica do Largo do Poço Novo (hoje Lg. Dr. António de Sousa de Macedo, situado na bifurcação da Calçada do Combro) vem igualmente corroborar esta hipótese.
Há no entanto uma possibilidade para o termo 'negros' menos incómoda. Este pode estar relacionado com o antigo
Convento de S. Bento (onde hoje temos o nosso Parlamento), e que era conhecido por S. Bento dos Negros, devido à cor dos hábitos dos frades. E é no Largo do Poço Novo onde existe a referida bifurcação na Calçada do Combro - para a Rua do Poço dos Negros e a Rua dos Poiais de S. Bento - por onde se chegava ao convento, e onde segundo o historiador Gustavo de Matos Sequeira, os frades negros possuíam também um poço...

Poço de uns ou de outros, o poço terá sido
mais ou menos fundo conforme as necessidades de quem o fez, a morfologia e o nível freático do terreno. A designação implícita na Rua do Poço dos Negros atesta a importância desta no processo urbanístico da cidade durante o sec. XVI que evoluía no sentido do ocidente junto à desembocadura do rio Tejo, e que seria consolidado após (e na consequência) do terramoto. Uma rua moderna, do seu tempo.













Esquina do Largo do Poço Novo com a Rua do Poço dos Negros, c. 1900