17.1.09

texto de André E. Teodósio

TEATRO
Strange FruitAqui também acabou
Caixa 1. Strange Fruit + Caixa 2. Aqui também acabou
Poço dos Negros, 120 (Julho e Novembro de 2008)


As rabecas (rabeca chuleira ou rabela ou ramaldeira, é um violino popular de braço curto e escala muito aguda) guincham: SÃO AMIGOS. Para esclarecer: tenho alguns amigos que criam coisas que não me seduzem. E como isso não é um problema, também não tem necessariamente de ser uma mais-valia (apesar de só conseguir ser maioritariamente amigo de pessoas que criam coisas BELAS, sim, belas de beleza. Mas isto fica para outro dia).
Ultrapassando isto, o Cão Solteiro (companhia com quem co-produzimos o espectáculo Sobre a mesa a faca) continua a ter um trabalho decididamente high brow, elevando assim a minha vontade de investir sentido nessa coisa nula a que chamamos Humanidade (logo, perpetuando a F.O.D.A., eu já explico). O excesso como verdade? Hmm. Então somos maus.
Estas duas caixas são uma formalização de todo este pensamento.
As caixas, relicários de padrões, reproduzem/criam o padrão Nada. Se Anita vai a Nada, as duas caixas do Cão Solteiro são a agência de viagens do Nada. Ora o Nada, não é o gesto de recusa passivo de Bartleby. Pelo contrário, o Nada do Cão Solteiro é o agenciamento de tudo o que abarroca e dissimula o Nada. Portanto, o Nada com todos os seus pequenos Nadas (em psicanálise denomina-se de Realidade Simbólica, mas eu prefiro o logo F.O.D.A. 'Funcionamento Ordenado Dos Anónimos'). E porque "a vida é feita de pequenos nadas" SG dixit, é que se deve recusar a leitura passiva de Bartleby (o não quero saber, não estou a ver, não quero fazer parte) e preferir a leitura activa (ao contrário de Sloterdijk, prefiro o cinismo à ironia): "Afastarmo-nos o suficiente para podermos observar o que se passa na complexa região contemporânea" de A-Team dixit in Supernova.
Se na primeira caixa temos uma compreensão Macro, o perpetuar da actividade simbólica pós-maçã, na segunda caixa temos um entendimento Micro, a sensação do 'eu-sei-mas-ainda-assim-não-quero-saber' que levou/leva alguém a trincar a/s maçã/s (assim como o burro que segue a cenoura).
Ora, é em toda esta vontade de pensar, capacidade de se voyeurizar, que as duas caixas do Cão Solteiro possibilitam que a sociedade se vá desmarcando. Novos lugares serão ocupados, é verdade. Mas também é verdade que ainda falta a caixa 3. lol Ou não? Ai. hihihihi. e a 4 e a 5 e a 6 e a 7 e a 8 e por aí fora.



(texto retirado do blog do teatro Praga)