26.10.08

Serge Gainsbourg / France Gall . 1966


Les Sucettes

Annie aime les sucettes,
Les sucettes à l'anis.
Les sucettes à l'anis
D'Annie
Donnent à ses baisers
Un goût ani-
Sé. Lorsque le sucre d'orge
Parfumé à l'anis
Coule dans la gorge d'Annie,
Elle est au paradis.

Pour quelques pennies, Annie
A ses sucettes à l'anis.
Elles ont la couleur de ses grands yeux,
La couleur des jours heureux.

Annie aime les sucettes,
Les sucettes à l'anis.
Les sucettes à l'anis
D'Annie
Donnent à ses baisers
Un goût ani-
Sé. Lorsqu'elle n'a sur la langue
Que le petit bâton,
Elle prend ses jambes à son corps
Et retourne au drugstore.

Pour quelques pennies, Annie
A ses sucettes à l'anis.
Elles ont la couleur de ses grands yeux,
La couleur des jours heureux.

Lorsque le sucre d'orge
Parfumé à l'anis
Coule dans la gorge d'Annie,
Elle est au paradis.

25.10.08

Inevitáveis ingredientes

texto de Paulo Emerenciano a-propósito da reprodução das duas páginas da revista Seara Nova (número editado em Janeiro de 1972 sob a direcção de Augusto Abelaira) distribuidas durante o espectáculo


Lado a lado «inflação» e «crédito». Opostos e, ao mesmo tempo, conceitos aliados ou, talvez, dois pesos da mesma moeda: a ilusão do dinheiro, o sonho da liberdade financeira e o seu castigo. Dois extremos do equilíbrio. No meio, a ganância humana. A relação entre os dois suporta-se a um ritmo bem encadeado.

O crédito fornece o acesso ao dinheiro de muitas pessoas que não o têm. Pessoas e entidades que precisam dele para impulsionar o crescimento das suas actividades, a que chamamos, por exemplo, modernização. Quanto mais modernização e competição, maior a necessidade de dinheiro e maior é a oferta de crédito. O dinheiro em circulação cresce e com ele os preços tendem a aumentar, porque há mais dinheiro disponível para pagar os bens e há mais procura. As taxas de juro descem e facilitam o crédito. À medida que este fenómeno sucede, os preços separam-se do valor real dos bens e como progresso desta lógica de «mais dinheiro, mais compras», a especulação ganha proporções irrealistas e os preços de certos bens tornam-se absurdos, provocando a tal inflação, ou seja a disparidade entre o valor real e o preço. Cria-se uma ilusão generalizada de poder compra baseado no crédito. A sociedade extrema-se na separação entre os que têm e os que não têm. O acesso ao crédito consagra uma certa ascensão social, da qual ninguém se consegue libertar. As pessoas podem exibir-se com maior afirmação e isso torna-se um vício, expressa em tensões consumistas. Surgem os centros comerciais e o grande consumo, a massificação, a globalização. Criam-se grandes empresas, grandes carreiras e futuros promissores, tanto quanto grandes fortunas, nuns casos e miséria noutros. A democracia floresce à sombra do mercado. Os hábitos sofisticam-se e precisam de mais crédito. As roupas, os carros, as casas novas, os móveis, as férias, os electrodomésticos.
Decorre um período largo – pensemos com Kondratiev e Shumpeter em 50 anos – para partir do nada e chegar a um ponto em que a inflação é insustentável. Começa o processo inverso. Dado o nível elevado de preços e o custo de vida se tornar aflitivo, há duas situações: ou as pessoas deixam de pedir crédito ou pedem-no e ficam sobre endividadas. Em ambos os casos, o mercado fica bloqueado, porque o poder de compra pára ou decresce. As taxas de juro sobem para conter o crédito e domesticar a inflação e as empresas deixam de vender os seus produtos. O número de pessoas sem emprego aumenta. A paz social e a democracia entram em risco, em virtude do desespero.
O político reage com medidas de contenção e de incentivos aos mercados, associado a uma taxa de juro que trava os excessos do próprio mercado. Se as medidas forem suficientemente absorvidas pelos mercados, a tendência começa a inverter-se e voltamos ao início do ciclo, ao início deste texto. Inversamente, os agentes do mercado não absorvem as medidas. A desconfiança dá origem ao pânico e ocorre um ciclo de decadência, a que se chama «depressão». Em depressão, não existe crédito e a inflação é tão alta que nenhum dinheiro tem valor, nem os produtos, por mais simples que sejam, têm um preço adequado, sobretudo os bens de primeira necessidade que tendem a tornar-se muito escassos. Todo o fluxo de fornecimento de bens e serviços é cortado. A violência entre as pessoas instala-se porque deixa de haver ordem pública devido ao colapso do exército e das forças policiais, também apanhadas no turbilhão. Volta-se à dureza das origens. Volta-se ao zero reinicia-se tudo outra vez. A inflação sempre presente, com a natural variação dos preços, nesta fase ainda alta e a descer, à medida que o trabalho vai dando origem a produção excedentária, os fluxos financeiros vão dando origem a um mercado que se recompõe. Na sequência disso, reemerge o crédito e todo o ciclo de relacionamento entre crédito e inflação. Restabelece-se a ordem e a democracia regressa. Inflação e crédito, mercado e democracia, tudo velhos ingredientes habituais do velho mundo capitalista e da paz social.

24.10.08

23.10.08

CONFERÊNCIA DOS PÁSSAROS EM NAGA MASJID

Encontraram-se pra rezar e beber chá
com pétalas de rosa a boiar na xícara
e desenharam uma letra que só há
antes do alfabeto e da fala humana


em O SENTIDO DA VIDA É SÓ CANTAR
de António Barahona

4.10.08

figurinos para cabides








Alain Resnais . outras caixas

Laurie Anderson




what Fassbinder film is it?
the one-armed man walks into a flower shop
and says: what flower expresses
days go by
and they just keep going endlessly
pulling into the future
days go by
endlessly
endlessly pulling you
into the future?
and the florist says : White Lyli

..............

Brueghel / Slide Show

..........

"... remember that one crow is bad, two's luck,three's health, four's wealth, five's sickness, and six is death. ..."

...........

L'Amour est mort

a realidade também
e a metáfora idem !




(escolher outra canção de Brel)


2.10.08

Leituras . William Carlos Williams


Vamos ler, disse o Rei
com vivacidade. Continuemos
a divagar, disse a Rainha
ainda com mais vivacidade

e sem pestanejar
.

Delicadamente mordeu-lhe
os mamilos com os lábios. Não
não gosto disso
::::

1.10.08

Leituras . Julio Cortázar

.
" Somos uma família rara. Neste país onde as coisas se fazem por obrigação ou fanfarronice, nós gostamos de ocupações livres, trabalhos porque sim, fantasias que não servem para nada.

Temos um defeito: falta-nos originalidade. Quase tudo o que fazemos é inspirado - digamos francamente, copiado - de modelos célebres. Se inovamos alguma coisa é sempre inevitável: anacronismos ou surpresas, escândalos. O meu tio mais velho diz que somos como as cópias em papel químico, idênticas ao original, embora com outra cor, outro papel, outra finalidade. A minha irmã número três pode-se comparar com o rouxinol mecânico de Andersen; o seu romântismo chega a nausear.

Somos muitos e vivemos na rua Humboldt.

Fazemos coisas, mas é difícil contá-las porque falta o mais importante, a ansiedade e a expectativa de estar a fazer as coisas, as surpresas muito mais importantes que os resultados, os desaires em que a família inteira vem abaixo como um castelo de cartas e durante dias e dias só se ouvem lamentações e gargalhadas. Contar o que fazemos é apenas uma maneira de preencher vazios, porque às vezes estamos pobres ou presos ou doentes, às vezes morre alguém ou (dói-me dizê-lo) alguém trai, renuncia ou entra para a Direcção Impositiva. Não se deduza disto que somos melancólicos ou infelizes. ..."

....

J.Cornell por D.Michals 2

Leituras . Julio Cortázar

......

" .... Alguém canta no andar de cima! Nesta casa há um andar de cima! Nesta casa há um andar de cima, com outras pessoas! Um andar de cima onde vivem pessoas que nem imaginam o andar de baixo, e cá estamos todos na bola de cristal. E se de repente uma traça aparece na ponta de um lápis e palpita como um fogo cinzento, olha-a, eu olho-a, sinto esse coração pequeníssimo, oiço-a a essa traça que vive na bola de cristal frio, nada está perdido. Ao abrir a porta, ao chegar à escada, saberei que a rua está já ali em baixo; não o molde imposto, não as casas conhecidas, não o hotel em frente: a rua, floresta viva onde cada instante pode invadir-me como uma magnólia, onde as caras começam quando as olho, quando avanço, quando com os cotovelos, pestanas e unhas me atiro minuciosamente contra a massa da bola de cristal e arrisco a vida enquanto avanço passo a passo para ir comprar o jornal à esquina."


seguido de Instruções Para Descer Escadas


J.Cornell por D.Michals 3